-Coord.1.: E como promover saúde em uma ambiente desses de trabalho? Como é que faz?
-Profa.3: Não faz…
-Coord.2: Veja bem… Essa é uma forma de se sentir mal, estar mal. Então, quais são as estratégias que vocês vão utilizar para melhorar o ambiente de trabalho?
-Profa.3: Muitas vezes quando eu vejo que minha turminha da segunda série esquece lápis, esquece caderno, esquece tudo, vão todos lá para frente comigo, eu tiro a sandália…
-Profa.2: Pra frente de onde?
-Profa.3:…pra frente da casa. É porque só tem área na frente. É…eu fico com eles, pego cadeira, vamos brincar… Vamos brincar de roda. Um dia eles estavam torcendo e eu também, aí eu disse: “vamos lá pra frente” e todo mundo deu um grito bem alto. Aí eu disse: “Podem gritar”, eles olharam assim pra mim e eu comecei a gritar também: “Ah…”. Eu disse, vamos gritar para a gente voltar para sala…
-Coord.3.: Isso é uma forma de aliviar um pouco…
-Profa.3: Com certeza. Pois quando eu voltei, eles não deram os gritos? Eu fiz eles pularem, eu fiz eles correrem, corri com eles também. Quando eu voltei para sala, daqui a pouco já tava todo mundo calmo…
-Profa.2: Gostei da estratégia. Como é seu nome?
-Profa.3: Jurema.
-Profa.2: Jurema, e dá para perceber que o ambiente já está começando a ficar mais pesado? As crianças estão inquietas… dá pra perceber?
-Profa.3: Dá, dá… pelo menos na minha sala, quando… A gente não estressa? Por que criança não estressa também? E ainda mais num ambiente, como eu disse a vocês, uma sala pequenininha, quando dá duas horas e o sol bate, eu tenho que fechar a janela por que o sol bate no rosto deles… Aí tem essa criança que vem para escola, tomada banho, cabelinho limpo, unhinha cortada, mas essa aqui, não vem, já não tem o cuidado. Então o que acontece? Quando eu vejo que eles estão muito agitados, eu paro… Muitas vezes sou chamada na direção: “Por que sua turma tá ali?”. Eu digo: “Eles não estão mais agüentando, minha filha…”. Pertinho lá da cantina tem um pé de cajueiro, muitas vezes eu tiro minha turma inteira e vou lá pra debaixo do cajueiro. Você já imaginou uma tarde quente, com vinte e sete alunos, que quando vem os vinte e sete, é assim, as cadeiras batendo uma na outra. Minha sala é aberta, é a passagem para as outras turmas, e o que acontece? Às vezes eu estou no quadro, dando alguma matéria, tem menino de outra turma passando… Para entrar para turma da terceira, tem que passar pela minha sala. Aí o que acontece? Quando a minha turma tá assim, eu pego eles, levo para debaixo do cajueiro… Às vezes a gente pede uma reunião com os pais, não é para falar mal do filho dele não. É para dizer “socorro”. Mas quando a gente pede reunião com os pais, de vinte e sete alunos que eu tenho, vêm cinco.
-Profa.5: Uma vez eu fiz uma denúncia… (risos) Estavam para chegar as carteiras. Primeira semana não chegava. E eu perguntava onde os meninos iam estudar. Diziam no chão. Tá bom… Segunda semana, as carteiras não chegaram. Chamei os pais e disse: “Denunciem que seus filhos estão estudando no chão”. Num instante as carteiras apareceram.
-Profa.3: Na minha escola, tem aquelas carteiras universitárias. Aquela que é só o braço. E quando tem o braço para os alunos colocarem o material. Quando não tem, eles colocam tudo na minha mesa e eu fico em pé. Lá no Róger, a gente teve um problema sério de carteiras, de ventiladores. Olhe, na minha sala não tem ventilação, é perto da cantina, como se não bastasse o barulho, nas quartas-feiras tem um grupo de dança. Com o som, eu não consigo fazer nada, por que nas salas tem a abertura dos tijolos abertos, sabe? Eu não consigo fazer nada. Um dia desses, foi um cara, mas eu me zanguei, abri a porta e gritei: “Vocês pensam que aqui é a casa da sogra, é?”. Foi até um vereador nesse dia, aquele V. Era uma barulheira tão grande e eu comecei a gritar: “Aqui é uma sala de aula, gente!” Para poderem parar com o barulho. Sem os ventiladores, quente demais. Tem mais de um ano e meio que tem lá as coisas para colocarem os ventiladores e não colocaram. A gente adoece demais. Faz quatro anos que a gente luta pelo terreno da escola e depois que aquela senhora denunciou, já vai dar a quarta audiência. A solução que eles nos deram, a secretaria da educação, é que a escola vai compensar e ser construída em março do ano que vem e que a gente agüentasse até março. E outra coisa, de setembro para outubro, chegaram na minha sala mais quatro alunos, e eu disse que não tinha condições de receber. Olhe, pertinho da nossa escola tem a Escola S., que é grande, tem outra. E a nossa escola não tem condições. Na minha sala da segunda série na Escola N., quinze alunos já é muito aluno. E a outra ali, Marieta, que é uma garagem, não sei quantos alunos, ela ensina também pela manhã para a aceleração. Falta também para gente, o apoio da equipe técnica da escola. A gente não tem o apoio…
-Profa.5: Mas nesse sentido aí, a solicitação deve ser do grupo todo, a força aí é do grupo todo.
Fonte: Diálogo extraído de subgrupo do Curso de Multiplicadores de Base em João Pessoa, em 24 de outubro de 2002.
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